domingo, 15 de abril de 2012






07 de Junho de 2011
O dia do resultado do meu exame. "SIM, estava com AIDS"

É dia 07 de Junho de 2011. Na noite anterior, cantarolei por quase toda a noite e madrugada (orientado pela minha mãe) na esperança de acalentar o meu coração e receber um NÃO, no momento mais importante de toda a minha existência. As pessoas não têm a menor idéia do que significa um resultado de exame como o de HIV. Muita gente diz que preferem não fazê-lo, por medo do resultado, mas eu não penso assim. Hoje, quase um ano após meu diagnóstico confirmado, através do meu médico, Dr. Marcellus, descobrí que a AIDS se agrava no organismo se não a descobrimos e ou não a tratamos no momento certo e de forma adequada (Os chamados antirretrovirais). Um indivíduo com HIV precisa de cuidados habituais, que enquanto sorodiscordantes (pessoa sem o vírus do hiv no organismo) tornam-se apenas uma opção. Ele faz se quiser. Por exemplo: Dormir no mínmo 08 horas todos os dias, não ingerir bebida alcoólica, não fumar, manter hábitos saudáveis como se execitar (academia, corrida, amigos). Tudo isso ajuda e  muito, pois um soropositivo, a partir do momento que descobre sua doença, começa uma luta com sua imunidade (células do organismo chamadas de CD-4 que indicam quanto de reação existe no nosso corpo para nos protegermos da invasão de vírus, bactérias e outros agentes que nos tornam doentes ou causam mal ao funcionamento do nosso corpo). Pois é ela que indica a hora que saimos da condição de portador do vírus HIV para aidético, ou seja, a doença se manifestou e se desenvolveu, e com ela vêm uma série de doenças oportunistas, que são responsáveis (quando não tratadas) pelo óbito de um paciente por HIV. são elas: (Hepatite, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose, amigdalite e etc).
Bom, mas voltando ao grande dia do resultado do meu exame, como eu dizia, um resultado como esse mexe muito com nossa estrutura. Na verdade te transforma por completo, pois a semana que passei aguardando pelo exame me fez um ser humano melhor (por incrível que pareça) pois naquele dia do resultado me sentí diferente, como se tivesse pronto para o que viesse, pois no meu entendimento não havía mais nada que tivesse o dom de me abater tanto.
Naquele dia levantei as 06:30 da manhã, levei comigo para o banheiro uma cadeira. Coloquei-a de frente para o meu box e encima depositei a minha bíblia (ainda aberta em Isaías a página que se abriu para mim no primeiro dia do telegrama). Tomei um banho de quase uma hora, na verdade não tomei um banho, apenas me deixei ser banhado pelas águas doces do meu chuveiro. Ao longo dos meus 1,82m de altura, sentía-me preenchido por aquele líquido que , como num efeito de bálsamo, aliviasse as minhas feridas da alma. Chorava rios de lágrimas que se fundiam com as águas do banho. surtos de medo, dor, ansiedade tudo junto se misturavam dentro do meu peito. Leitores, acreditem: eu conseguia sentir o meu coração pulsando de modo desfreado, a cada tum tum, ecoava e me estremecia, como se tivesse preso a taróis e bumbos. Tudo tinha proporção maior naquele banho. Eu dizia:
-deus, o senhor que me fez, criou os meus olhos, as minhas mãos, as minhas intenções. É dono dos meus pensamentos, e sabe que te amo. Deus, não me deixe ter um resultado positivo neste exame. Não suportaria o preconceito das pessoas, não sei lidar com essa doença, não sobreviveria senhor.... Pai, me ouve, ouve o meu clamor....
Eu dizia isso e vistoriava toda a extensão do meu corpo, dedos, mãos, pernas, pés. nada fugia dos meus olhos naquele momento. Não sabia ao certo o que estava fazendo, mas acredito que tentava decorar meu corpo pela última vez, antes de saber o resultado daquele exame. Como se mudasse alguma coisa assim, do nada. Sinceramente, a aids transforma muito mais a sua cabeça que seu corpo. os maiores preconceitos estão em nós mesmos, e o que mais nos faz sofrer é que sabemos de tudo isso, mas a dor, o nojo, a recusa que se angaria num momento desses é inevitável. Não sei para outros, mas no meu caso, eu abominava tudo que dissesse respeito a esta doença. Este, na verdade, era o meu maior medo. Vou confessar algo a vocês: embora eu tivesse totalmente abalado por aquela situação, sempre soube que um dia passaria por isso, não sei, parece que eu sentia que um dia teria AIDS porque esse assunto me dava muito medo. Toda vez que ouvia alguém falando à respeito, ou uma notícia na tevê, ou um artigo de jornal, qualquer coisa, eu sempre me esquivava daquilo. Certa vez, na faculdade (de psicologia), um professor me disse que somos reféns dos nossos maiores medos, e que temos que ter cuidado com o que tememos, pois assim alimentamos a possibilidade de que exatamente o que tememos nos aconteça.
Bom, terminei aquela inspeção do meu corpo, enxuguei-me na toalha e saí do banheiro atônito, pois ja havia se passado mais de uma hora. O hemocentro abria as sete e eu queria estar lá na primeira hora do dia. queria logo acabar com tudo aquilo. Me vestí, não consegui comer nada naquela manhã, não descia. Então apanhei os documentos, as chaves, olhei para trás e vi minha sala. Não sei descrever, mas até parecia que estava me despedindo da minha própria casa. Uma sensação muito louca. Ao chamar o elevador, meu celular tocou, era a minha mãe. Não consegui atender, na verdade não quis atender. Eu queria saber logo o resultado daquele maldito exame, e não queria ouvir ninguém, nem emsmo minha mãe. Não sei se fiz certo, mas o fiz e hoje sei que foi importante ter entrado naquela sala somente eu e meus pensamentos de ansiedade. Saí do elevador, ao passar pela hall da portaria, recebi uma mensagem de minha mãe:
-filho, antes de mais nada TE AMO e estou com você. Não se engane, Deus ja me mostrou esse exame dará positivo. se prepare, e conte comigo. Me liga assim que puder!

Eram exatamente essas as palavras que minha mãe escreveu. Não preciso dizer que as lágrimas desceram ne? fiquei pior, pois sei da sintonia de minha mãe com Deus e sei que quando ela diz que deus mostrou é porque realmente ocorrerá como ela diz.
Não sei como tive forças pra chegar ao Hemocentro, é bem próximo de minha casa, três ruas paralelas, mas cheguei. Havía ums egurança na entrada, que me disse bom dia. Eu não consegui responder. Passei por ele como se nada fosse (não por desmerecimento da pessoa dele) não saiam as palavras, aquela mensagem de texto da minha mãe acabou com as minhas esperanças de um NÃO.


Me apresentei na recepção de forma gélida e intrínseca, apresentei meu R.G e fui orientado a aguardar. cinco minutos depois me trouxeram água e me perguntaram se eu me sentia bem. Disse que estava um pouco ansioso e que se pudessem agilizar, me sentiria melhor, pois precisava trabalhar ainda naquele dia (mentira, não ia ao trabalho já haviam nove dias). A enfermeira trouxe papéis e pediu que eu assinasse. Entrei em pânico queria saber o porque de assinar aqueles papéis, começei a chorar, soluçava e não conseguia conter o choro, pediram que me acalmasse e disse que era um procedimento comum, e que no SUS (sistema único de saúde) só passavam o resultado de ume xame como este que fui buscar, para pessoas responsáveis por ele e que precisava ser tudo documentado. Vinte minutos se passaram, me senti mais calmo e resolvi assinar. Logo após fui chamado pelo nome por um senhor de jaleco branco e um olhar frio. Era o tal do médico que me daria o resultado. Tinha alguns papéis nas mãos e um estetoscópio no pescoço. Entrei numa saleta apertada e de vidro nas paredes, ou seja, quem estivesse de fora via tudo o que se passava. Me sentí desconfortável, pedí pra irmos a uma sala reservada, e o médico, de forma nula, me encarou firme nos olhos e mandou essa:
-Na vida, pagamos o preço de nossa inconsequência. onde te mostrarei os seus exames não impactará no que diz os laudos, tente se acalmar.

Eu estava perplexo com a frieza daquele homem, será que ele não percebia que esperei sete dias por aquela merda de resultado? como ele ousava falar daquele jeito comigo? Meu Deus, que homem grosso, um cavalo seria mais gentil naquele momento. Ele (o médico) continuou:
-Eu quero que você saiba que a medicina está muito avançada, e...
-Dr, vá direto ao ponto, eu nãoa guento mais isso, fala o resultado do exame, porque eu...
-Oha só, Lukas você tem que se controlar, calma! Qual a sua idade?
-28 Dr.
-Você é casado?
-Não, Dr. Sou solteiro
-Mora com sua família, seus pais?
-Não, Dr. Moro sozinho, não tenho ninguém aqui no Rio. sou de outro Estado, estou aqui sozinho.
-Mas não tem ninguém? um irmão, um amigo? Não posso conversar com você assim, neste estado.

Ele não queria me falar do exame, e eu ja não me aguentava mais, a cada minuto que se passava me sentia mais doído e aflito.
-Bom, ja que não tem ninguém, é o seguinte:
Como dizia hoje a medicina está muito avançada e tem como assistirmos de forma satisfatória esse tipo de diagnóstico, e...
-Deu positivo, Dr? Eu estou com AIDS????? falaaaa Dr, pelo amor de Deus, Dr.
-sim, Lucas, se exame deu positivo. Acusou reagente no exame ELISA, e.....

Meus caros leitores, ele falava sobre forma de contágio, de coquetéis, de apoio a familia, de fórmulas para viver bem, mas eu não sei uma sílaba do que aquele médico seco me disse, na íntegra, até hoje. Sentia náuseas, como se tivesse uma indigestão. Meu mundo rodou literalmente. Me repuxava na cadeira e lágrimas banhavam meu rosto. Não sei se sabem, mas dói muito mais confirmarmos algo que ja sabíamos a resposta do que algo que nos surpreende.Tinha nojo de mim, não queria me tocar, não conseguia levantar a minha cabeça. a única coisa que eu fazia era me agarrar ao meu telefone celular e ler, reler a msg de texto da minha mãe e eu chamava por ela, como eu chamava.... em pensamento eu dizia, socorro mãe.... socorro mãe, ta doendo, meu Deus como dói.
O médico não estava entendendo nada, eu congelei na cadeira, e ele ficou em silêncio, sem dizer um acalme-se. Isso durou, pelo menos uns trinta minutos. Entrou uma enfermeira, me deu um remédio (que até hoje se me perguntarem não sei o que tomei). Após passar meus dados e apanhar todas as guias que o Dr. me passara, me levantei da cadeira, e saí sem sequer olhar para tras. O tal médico me chamou pelo nome:
-Lukas,
Parei, fiz um  movimento giratório com a cabeça, e o encarei nos olhos. Ele disse:
-Boa sorte, a vida não acaba aqui.
Não dei resposta, na verdade tive nojo daquele homem, naquele momento. só se não acabasse para ele, pois pra mim.....
Passei pela recepção de cabeça baixa, desci as escadas do prédio do hemocentro e fui direto para o meu apartamento. Não conseguia raciocinar. Acreditem: descobrir que tem AIDS faz você sair de sí, é algo ininarrrável, que só quem passa consegue entender na íntegra, a sensação que sentia naquele momento. sentei-me no chão da minha sala e alí fiquei por muito tempo. Só me lembro de ouvir o som do celular tocar, inúmeras vezes durante aquele período. Não atendi, na verdade nem sabia quem estava ligando, nada mais me importava. so voltei em mim, ao erguer os olhos e ver meu relógio na parede que acusava Onze  e meia da noite. havia passado a manhã, tarde e inicio da noite ali e nem havia sentido a noção do tempo. Confirmei o que esperava há sete dias, e não tinha perspectivas de mais nada, não me importava mais nada, estava com AIDS e a única vontade que tinha era de tirar a minha vida. Não pensava na hipótese de viver com aquilo em meu corpo.

                                                                                                                         E continua


5 comentários:

  1. Olá, Lukas!

    Cheguei a seu blog por acaso, mas me fez muito bem lê-lo. Reparei que não postou mais nada desde Abril. Espero que estejas bem.

    Também estou angustiado com uma carta que recebi do hemocentro onde fiz uma doação de sangue. Na hora até fiquei tranquilo, mas já começou a bater um certo pânico, até porque eu sei que tenho com que me preocupar. Procuro tomar cuidado nas minhas relações, mas não sou perfeito e já fiz algumas besteiras. Embora poucas vezes não tenha usado preservativo é o suficiente para elevar minhas angustias a estratosfera.
    Falei com algumas pessoas, parece que na maioria das vezes o reteste dá negativo. Vou me apegar a isso para aguentar até o dia que receber o resultado final. Devo me apresentar ao hemocentro na segunda-feira para fazer os exames. Torço para que não dê nada, claro, mas vou tentar estar preparado para ouvir o pior. Só espero encontrar um profissional mais sensível e humano que aquele médico horrível que te atendeu.

    Um forte abraço!




    ResponderExcluir
  2. Eduardo,

    Fique em paz. Nada acontece sem que estejamos preparados para suportar. Acredito que o mais importante agora é se preparar para o seu diagnóstico. Caso seja positivo tente se adaptar à sua nova realidade, e se der negativo, tome cuidado e tenha mais amor aos seu corpo. Sei que o desejo fala mais alto, e para nós, grita muito mais. Porém é preciso pensar que uma gozada dura no máximo 4 segundos, quando um HIV nos acompanha por uma vida inteira. Deus te proteja, obrigado por ler os meus relatos. Logo voltarei a postar no blog. Boa sorte amigo!!!

    ResponderExcluir
  3. Rapaz, encontrei seu blog porque doei sangue a uns 2 meses e a semana passada recebi uma carta de convocação. Daquele dia até hoje fiquei muito angustiado, principalmente depois que vi seu blog. Estava vasculhando na internet procurando um consolo e acabei encontrando seu blog.. Muita coisa na minha vida parecia com a sua, filho de mulher de oração que mora na cidade grande e etc... Mas hoje voltei ao hemocentro e recebi a noticia de que não foi nada demais, apenas alterações nos níveis de colesterol. Sofri só de imaginar... Mas Como está vc hoje? Como está o tratamento? Mande notícias pois muita gente acompanha sua história.

    ResponderExcluir
  4. Pessoal EU acho q estou com este virus ando muito fraco qndo tendo muito problem as Ando ate tendo depressao e EU mesmo me isola do depeasoas sera q depois q for me dado o cocktel e tudo mais vou tee ima Vida saudavel e igual eu tinha antes sera q vou tee for a Como um jovem comum home em dis Tem agradeso desde ja todos e quero mto estar com vcs daqui p frente quero ser amigos de todos e mto obrigado

    ResponderExcluir
  5. Meu Deus, vim parar a qui do nada mas que testemunho, sua mãe, que mulher de Deus.

    ResponderExcluir