domingo, 15 de abril de 2012






07 de Junho de 2011
O dia do resultado do meu exame. "SIM, estava com AIDS"

É dia 07 de Junho de 2011. Na noite anterior, cantarolei por quase toda a noite e madrugada (orientado pela minha mãe) na esperança de acalentar o meu coração e receber um NÃO, no momento mais importante de toda a minha existência. As pessoas não têm a menor idéia do que significa um resultado de exame como o de HIV. Muita gente diz que preferem não fazê-lo, por medo do resultado, mas eu não penso assim. Hoje, quase um ano após meu diagnóstico confirmado, através do meu médico, Dr. Marcellus, descobrí que a AIDS se agrava no organismo se não a descobrimos e ou não a tratamos no momento certo e de forma adequada (Os chamados antirretrovirais). Um indivíduo com HIV precisa de cuidados habituais, que enquanto sorodiscordantes (pessoa sem o vírus do hiv no organismo) tornam-se apenas uma opção. Ele faz se quiser. Por exemplo: Dormir no mínmo 08 horas todos os dias, não ingerir bebida alcoólica, não fumar, manter hábitos saudáveis como se execitar (academia, corrida, amigos). Tudo isso ajuda e  muito, pois um soropositivo, a partir do momento que descobre sua doença, começa uma luta com sua imunidade (células do organismo chamadas de CD-4 que indicam quanto de reação existe no nosso corpo para nos protegermos da invasão de vírus, bactérias e outros agentes que nos tornam doentes ou causam mal ao funcionamento do nosso corpo). Pois é ela que indica a hora que saimos da condição de portador do vírus HIV para aidético, ou seja, a doença se manifestou e se desenvolveu, e com ela vêm uma série de doenças oportunistas, que são responsáveis (quando não tratadas) pelo óbito de um paciente por HIV. são elas: (Hepatite, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose, amigdalite e etc).
Bom, mas voltando ao grande dia do resultado do meu exame, como eu dizia, um resultado como esse mexe muito com nossa estrutura. Na verdade te transforma por completo, pois a semana que passei aguardando pelo exame me fez um ser humano melhor (por incrível que pareça) pois naquele dia do resultado me sentí diferente, como se tivesse pronto para o que viesse, pois no meu entendimento não havía mais nada que tivesse o dom de me abater tanto.
Naquele dia levantei as 06:30 da manhã, levei comigo para o banheiro uma cadeira. Coloquei-a de frente para o meu box e encima depositei a minha bíblia (ainda aberta em Isaías a página que se abriu para mim no primeiro dia do telegrama). Tomei um banho de quase uma hora, na verdade não tomei um banho, apenas me deixei ser banhado pelas águas doces do meu chuveiro. Ao longo dos meus 1,82m de altura, sentía-me preenchido por aquele líquido que , como num efeito de bálsamo, aliviasse as minhas feridas da alma. Chorava rios de lágrimas que se fundiam com as águas do banho. surtos de medo, dor, ansiedade tudo junto se misturavam dentro do meu peito. Leitores, acreditem: eu conseguia sentir o meu coração pulsando de modo desfreado, a cada tum tum, ecoava e me estremecia, como se tivesse preso a taróis e bumbos. Tudo tinha proporção maior naquele banho. Eu dizia:
-deus, o senhor que me fez, criou os meus olhos, as minhas mãos, as minhas intenções. É dono dos meus pensamentos, e sabe que te amo. Deus, não me deixe ter um resultado positivo neste exame. Não suportaria o preconceito das pessoas, não sei lidar com essa doença, não sobreviveria senhor.... Pai, me ouve, ouve o meu clamor....
Eu dizia isso e vistoriava toda a extensão do meu corpo, dedos, mãos, pernas, pés. nada fugia dos meus olhos naquele momento. Não sabia ao certo o que estava fazendo, mas acredito que tentava decorar meu corpo pela última vez, antes de saber o resultado daquele exame. Como se mudasse alguma coisa assim, do nada. Sinceramente, a aids transforma muito mais a sua cabeça que seu corpo. os maiores preconceitos estão em nós mesmos, e o que mais nos faz sofrer é que sabemos de tudo isso, mas a dor, o nojo, a recusa que se angaria num momento desses é inevitável. Não sei para outros, mas no meu caso, eu abominava tudo que dissesse respeito a esta doença. Este, na verdade, era o meu maior medo. Vou confessar algo a vocês: embora eu tivesse totalmente abalado por aquela situação, sempre soube que um dia passaria por isso, não sei, parece que eu sentia que um dia teria AIDS porque esse assunto me dava muito medo. Toda vez que ouvia alguém falando à respeito, ou uma notícia na tevê, ou um artigo de jornal, qualquer coisa, eu sempre me esquivava daquilo. Certa vez, na faculdade (de psicologia), um professor me disse que somos reféns dos nossos maiores medos, e que temos que ter cuidado com o que tememos, pois assim alimentamos a possibilidade de que exatamente o que tememos nos aconteça.
Bom, terminei aquela inspeção do meu corpo, enxuguei-me na toalha e saí do banheiro atônito, pois ja havia se passado mais de uma hora. O hemocentro abria as sete e eu queria estar lá na primeira hora do dia. queria logo acabar com tudo aquilo. Me vestí, não consegui comer nada naquela manhã, não descia. Então apanhei os documentos, as chaves, olhei para trás e vi minha sala. Não sei descrever, mas até parecia que estava me despedindo da minha própria casa. Uma sensação muito louca. Ao chamar o elevador, meu celular tocou, era a minha mãe. Não consegui atender, na verdade não quis atender. Eu queria saber logo o resultado daquele maldito exame, e não queria ouvir ninguém, nem emsmo minha mãe. Não sei se fiz certo, mas o fiz e hoje sei que foi importante ter entrado naquela sala somente eu e meus pensamentos de ansiedade. Saí do elevador, ao passar pela hall da portaria, recebi uma mensagem de minha mãe:
-filho, antes de mais nada TE AMO e estou com você. Não se engane, Deus ja me mostrou esse exame dará positivo. se prepare, e conte comigo. Me liga assim que puder!

Eram exatamente essas as palavras que minha mãe escreveu. Não preciso dizer que as lágrimas desceram ne? fiquei pior, pois sei da sintonia de minha mãe com Deus e sei que quando ela diz que deus mostrou é porque realmente ocorrerá como ela diz.
Não sei como tive forças pra chegar ao Hemocentro, é bem próximo de minha casa, três ruas paralelas, mas cheguei. Havía ums egurança na entrada, que me disse bom dia. Eu não consegui responder. Passei por ele como se nada fosse (não por desmerecimento da pessoa dele) não saiam as palavras, aquela mensagem de texto da minha mãe acabou com as minhas esperanças de um NÃO.


Me apresentei na recepção de forma gélida e intrínseca, apresentei meu R.G e fui orientado a aguardar. cinco minutos depois me trouxeram água e me perguntaram se eu me sentia bem. Disse que estava um pouco ansioso e que se pudessem agilizar, me sentiria melhor, pois precisava trabalhar ainda naquele dia (mentira, não ia ao trabalho já haviam nove dias). A enfermeira trouxe papéis e pediu que eu assinasse. Entrei em pânico queria saber o porque de assinar aqueles papéis, começei a chorar, soluçava e não conseguia conter o choro, pediram que me acalmasse e disse que era um procedimento comum, e que no SUS (sistema único de saúde) só passavam o resultado de ume xame como este que fui buscar, para pessoas responsáveis por ele e que precisava ser tudo documentado. Vinte minutos se passaram, me senti mais calmo e resolvi assinar. Logo após fui chamado pelo nome por um senhor de jaleco branco e um olhar frio. Era o tal do médico que me daria o resultado. Tinha alguns papéis nas mãos e um estetoscópio no pescoço. Entrei numa saleta apertada e de vidro nas paredes, ou seja, quem estivesse de fora via tudo o que se passava. Me sentí desconfortável, pedí pra irmos a uma sala reservada, e o médico, de forma nula, me encarou firme nos olhos e mandou essa:
-Na vida, pagamos o preço de nossa inconsequência. onde te mostrarei os seus exames não impactará no que diz os laudos, tente se acalmar.

Eu estava perplexo com a frieza daquele homem, será que ele não percebia que esperei sete dias por aquela merda de resultado? como ele ousava falar daquele jeito comigo? Meu Deus, que homem grosso, um cavalo seria mais gentil naquele momento. Ele (o médico) continuou:
-Eu quero que você saiba que a medicina está muito avançada, e...
-Dr, vá direto ao ponto, eu nãoa guento mais isso, fala o resultado do exame, porque eu...
-Oha só, Lukas você tem que se controlar, calma! Qual a sua idade?
-28 Dr.
-Você é casado?
-Não, Dr. Sou solteiro
-Mora com sua família, seus pais?
-Não, Dr. Moro sozinho, não tenho ninguém aqui no Rio. sou de outro Estado, estou aqui sozinho.
-Mas não tem ninguém? um irmão, um amigo? Não posso conversar com você assim, neste estado.

Ele não queria me falar do exame, e eu ja não me aguentava mais, a cada minuto que se passava me sentia mais doído e aflito.
-Bom, ja que não tem ninguém, é o seguinte:
Como dizia hoje a medicina está muito avançada e tem como assistirmos de forma satisfatória esse tipo de diagnóstico, e...
-Deu positivo, Dr? Eu estou com AIDS????? falaaaa Dr, pelo amor de Deus, Dr.
-sim, Lucas, se exame deu positivo. Acusou reagente no exame ELISA, e.....

Meus caros leitores, ele falava sobre forma de contágio, de coquetéis, de apoio a familia, de fórmulas para viver bem, mas eu não sei uma sílaba do que aquele médico seco me disse, na íntegra, até hoje. Sentia náuseas, como se tivesse uma indigestão. Meu mundo rodou literalmente. Me repuxava na cadeira e lágrimas banhavam meu rosto. Não sei se sabem, mas dói muito mais confirmarmos algo que ja sabíamos a resposta do que algo que nos surpreende.Tinha nojo de mim, não queria me tocar, não conseguia levantar a minha cabeça. a única coisa que eu fazia era me agarrar ao meu telefone celular e ler, reler a msg de texto da minha mãe e eu chamava por ela, como eu chamava.... em pensamento eu dizia, socorro mãe.... socorro mãe, ta doendo, meu Deus como dói.
O médico não estava entendendo nada, eu congelei na cadeira, e ele ficou em silêncio, sem dizer um acalme-se. Isso durou, pelo menos uns trinta minutos. Entrou uma enfermeira, me deu um remédio (que até hoje se me perguntarem não sei o que tomei). Após passar meus dados e apanhar todas as guias que o Dr. me passara, me levantei da cadeira, e saí sem sequer olhar para tras. O tal médico me chamou pelo nome:
-Lukas,
Parei, fiz um  movimento giratório com a cabeça, e o encarei nos olhos. Ele disse:
-Boa sorte, a vida não acaba aqui.
Não dei resposta, na verdade tive nojo daquele homem, naquele momento. só se não acabasse para ele, pois pra mim.....
Passei pela recepção de cabeça baixa, desci as escadas do prédio do hemocentro e fui direto para o meu apartamento. Não conseguia raciocinar. Acreditem: descobrir que tem AIDS faz você sair de sí, é algo ininarrrável, que só quem passa consegue entender na íntegra, a sensação que sentia naquele momento. sentei-me no chão da minha sala e alí fiquei por muito tempo. Só me lembro de ouvir o som do celular tocar, inúmeras vezes durante aquele período. Não atendi, na verdade nem sabia quem estava ligando, nada mais me importava. so voltei em mim, ao erguer os olhos e ver meu relógio na parede que acusava Onze  e meia da noite. havia passado a manhã, tarde e inicio da noite ali e nem havia sentido a noção do tempo. Confirmei o que esperava há sete dias, e não tinha perspectivas de mais nada, não me importava mais nada, estava com AIDS e a única vontade que tinha era de tirar a minha vida. Não pensava na hipótese de viver com aquilo em meu corpo.

                                                                                                                         E continua


quinta-feira, 12 de abril de 2012


"O Telefonema para a minha mãe"
Finalmente falo com alguém, após 06 dias confinado em meu apartamento

Era manhã de 06 de Junho e o vento frio da madrugada ainda tremulava plea janela do apartamento, no quinto andar do meu prédio. Se disser que dormi, não seria aqui de todo honesto, porém a sensação era de ter estado a noite toda na balada. Sabe, quando saímos num sábado a noite e só voltamos noa segunda de manhã? pois eram aqueles mesmos sintomas que pairavam sobre o meu corpo. O gosto amargo da boca entreaberta, banhada pelo sal das minhas lágrimas incomodava, e muito. A falta de banho, ou de qualquer alimento (inclui-se água) já denunciavam a minha total fraqueza. Não tinha mais a certeza de nada, a única coisa que eu sabia é que aquela manhã era dia 06 de Junho, véspera do resultado do meu exame de HIV. Daí, talvez vocês me questionem: Se fiquei tanto tempo isolado, como podia saber? Bem, meus caros leitores, eu esqueceria minhas origens, quem eu era, qualquer coisa, menos que dia era. A única coisa que tinha em minha frente, durante os seis dias em que fiquei isolado do mundo eram a minha bíblia e um calendário, que riscava com caneta a cada dia que se passava daquela semana, desde a coleta para reteste de HIV Elisa do hemocentro. Bem, diante de tanto mal estar, num impulso descontrolado, me levantei do chão do meu quarto, a luz do dia já adentrava pela minha janela, me denunciando que a cidade havia despertado. Com os olhos inchados, levanto a vista e vejo o relógio da estação hidroviária (que fica de frente à minha casa). Marca 07:20 da manhã. Meio atônito, peguei o meu celular num canto da casa, e liguei para a minha família (em Minas Gerais). Minha mãe atende com voz embargada ainda de sono. Vocês podem não acreditar, mas aquele momento era ainda mais difícil para mim... o que diria à minha família? eu sempre fui autossuficiente, o independente. Correto demais pra jogar uma bomba dessas na cabeça deles. Não disse, mas sou filho de Pastor, criado desde nascido em lar evangélico. Pensem num filho que toda mãe quer ter? pois é, este era eu. Saí cedo de casa para trabalhar, com onze anos de idade. sempre ajudei no sustento da casa, e nunca dei motivo à eles para qualquer tipo de preocupação. Como minha família reagiria? como minha mãe receberia uma sentença como esta: MÃE, ESTOU COM AIDS!!!
Sou de família tradicional demais, onde quem tem aids é homossexual, ou drogado, ou seja, como a  maioria da sociedade pensa (até ter alguém na família com HIV - e isso não acontece só com a AIDS, é assim também com o câncer, com a esclerose, tuberculose,  Hepatite, e tantas outras doenças do tipo).
Bom, o certo é que enchi-me de coragem (não sei de onde) e:
-Alô, mãe
Minha voz mal saía, e eu tremia por dentro. Lembrando que o objetivo da ligação era ser o mais breve possível e dizer a ela que no dia seguinte teria o resultado do HIV.
-Oi meu filho, eu estou muito preocupada com você. Estamos há quatro dias tentando falar com você e nada. O que aconteceu com o seu celular? Não pode fazer isso, agente se preocupa, e...
Minha mãe (como todas fazem) começava um festival de repreensões, me questionando o porque de ter ficado tanto tempo incomunicável. Eu, já sem a menor possibilidade de esconder algo de errado, a interrompi:

-Mãe, maaaeee, só me ouve, por favor
Nisso minhas lágrimas já se misturavam ao meu tom de voz, tornado-o monossilábico e redundante.
-Mãe, eu estou muito doente, e talvez comece um período muito difícil da minha vida, onde vou precisar muito do apoio de todos vocês, minha família.
-Meu filho, você está me assustando, o que aconteceu? o que é que você tem? eu disse às meninas (referindo-se às minhas irmãs - ela as chama de meninas - aliás toda a família) que você estava com problemas, eu senti meu filho, deus me mostrou algo de errado.
-Deus te mostrou o que mãe? perguntei, numa tentativa de aliviar minha responsabilidade de ter que pronunciar o nome da minha doença (acreditem, durante dois meses, não conseguia pronunciar a palavra AIDS sem me descontrolar) eu sentia repulsa de pensar na hipótese de estar aidético. Não conhecia nada desta doença e fui educado de forma a abominar a AIDS como uma consequência de uma vida ilícita de fora dos padrões, era como se a AIDS refletisse o lado obscuro da  minha vida, que não queria revelar à ninguém.
-me fale, meu filho, o que você tem? não pode ser, meu Deus......
eu não entendia nada, minha mãe falava como se soubesse que era aids, tudo bem que ela sempre foi uma mulher de oração e de muita comunhão com Deus, mas eu estava perplexo por tanta sintonia.
-Mãe, é uma doença horrível, mas eu ainda não tenho certeza, fiz um exame há sete dias atras e amanhã vou saber o resultado, não quero que conte à ninguém, eu também não o fiz, só estou falando disso com a senhora, não conte pras meninas, nem pro pai, pra ninguém, me promete mãe? pelo amor de Deus... Quero ter certeza primeiro.
-Meu filho você tá me assutando, sua mãe promete, mas me fale você está com cãncer??
-Não mãe, não é câncer...
-Então a minha visão era real, meu filho você tá com ....
-AIDS, mãaaaaeee, tudo indica que eue steja aidético. Meu Deus mae..... Me ajuda, tá doendo demais, eu não consigo pensar nisso, mãe eu não posso ter isso no meu corpo, peça a deus mãe, ele não pode permitir que eu esteja com AIDS.
-meu filho, se acalma.... Você tem, você tem certeza? quem te falou isso, você já foi ao médico?
-Sim, mão ja fui e fiz todos os exames, sai amanhã o último exame, o decisivo.
Meus caros leitores, alí, naquele telefonema, depois de 29 anos de vida, conheci a minha verdadeira mãe, a minha mãe de verdade... Todas as palavras que ela me dizia era como se fosse a verdade absoluta do mundo, entrava como bálsamo, e a sensação era de alívio para as minhas feridas. E ela, então me disse:
-Olha, eu estava de madrugada, há cerca de um mês em casa, sem sono, orava a Deus quando vi em visão, você entrando de malas nas mãos aqui em casa em Minas Gerais, você tava bonito, meu filho, usava uma roupa elegante mas tinha uma expressão triste. então eu perguntei o que houve, à você, e me disse que estava bem, mas que as notícias não eram boas. Você tinha um envelope nas mãos, e nele um exame escrito: POSITIVO. Não foi um sonho, meu filho, porque eu não estava dormindo, foi como um presságio, entende?
-Sim, mãe, como muitos que sempre tive, lembra?
Disse eu à minha mãe, me referindo ás inúmeras noites em claro que eu passava por motivos de insônia e sensações que sentia.
-Sim, eu lembro, meu filho, pois é, deus me mostrou há um mês, mais ou menos sua enfermidade e desde aquele dia minha vida é chorar. Peço a Deus, desde aquele dia, que isso não fosse verdade.
-mas, mãe porque a senhora não me disse isso antes? Sei lá eu teria tomado cuidado, teria feito exames, não teria esperado uma doação de sangue voluntária pra saber disso.
-Não, filho, não quis falar porque não queria dar planos ao inimigo. Mas eu quero que saiba, que quando nasceu te entreguei a Jesus, e ele disse que NÃO CAI UMA FOLHA DE UMA ÁRVORE SEM QUE ELE PERMITA. então, não se desespera, confia em Deus, e sua mãe está com você... Pode ser uma lepra, seu corpo pode vir banhado de feridas fedidas, pode sair baba de sua boca, pode se deitar com quem for, mas mesmo assim, ainda será meu filho, eu te amo e meu amor é maior que todos os seus pecados. Você não está sozinho, meu filho. Não se sinta sozinho pelo amor de Deus, sua mãe está aí com você neste momento.

Meus leitores,
Abracei minha progenitora, naquele momento, pelo telefone, e choramos juntos por quase uma hora, sem nada mais nos dizer um ao outro...
Nos prometemos orar juntos o resto daquele dia, e não contar a ninguém antes do resultado dos exames, no dia seguinte. Minha mãe permaneceu de 07:30 da manhã, daquele dia até quatro da tarde cantando para mim no telefone, e orando a deus, pedindo a paz de espirito e que me acalmasse e me preparasse para o pior. Não sei dizer, ao certo, mas eu não conhecia a minha mãe, antes daquele telefonema, parecia uma outra pessoa, fomos criados de forma seca e muito arraigada, e não nos demonstrávamos muito carinho (em palavras), lógico que nos amávamos desde sempre, mas haviam barreiras demais. Naquele dia, todas elas se romperam e minha mãe, foi a pessoa que me impediu de tirar a minha vida, antes mesmo que o resultado do exame de HIV ficasse pronto.Desliguei o telefone, por volta de quatro e meia da tarde, coloquei um cd evangélico e fiquei orando o resto da tarde e noite, pedindo a Deus que aquilo tudo fosse só um grande pesadelo, e que, dentro de algumas horas, toda a minha vida voltasse ao normal. me atormentava a ideia de que em algumas horas saberia o resultado do meu exame

                                                                                      E continua...


quarta-feira, 4 de abril de 2012


A angústia da espera pelo resultado do exame de HIV - Elisa
Os piores sete dias da minha vida


                    Nada que eu disser aqui descreverá o que senti naqueles sete dias de espera. Após caminhar por quase quarenta minutos em linha reta na rua do hemocentro juntei as forças que não sabia que me restavam, até chegar no meu prédio. Passei pelo porteiro, e não contive as minhas lágrimas, elas banhavam o meu rosto e denunciavam  que algo terrível havia acontecido. Ele me perguntou o que estava havendo, mas apenas ouvi um balbucio longe, pois tudo o que dissera se tornara uma frase sem nexo, diante do que eu "não estava pensando". Sim, porque meus pensamentos não tinham forma. Não sei explicar o que pensava naquele momento, porque não se pensa em nada e se pensa em tudo ao mesmo tempo, nessas horas. Cheguei ao meu apartamento e sentei em minha cadeira de frente ao notebook, a única coisa que lembro é  de ter aberto a minha bíblia, que já empoeirada, encontrei sobreposta à resma de papéis da mesinha do computador. Abri-a aleatoriamente e caiu em Isaías Capitulo 51. Soluçava, num pranto sem fim, e só sabia repetir: Que horror, Meu Deus. Que horror, não me deixe estar com isso!!!!! 
Meus gritos ecoavam    em toda a minha casa, e em minutos minha camisa estava encharcada  de suor e lágrimas. Neste momento não tinha aparência, amigos, dote, absolutamente nada capaz de me confortar...
E assim, permaneci por seis dias ininterruptos... Não comi, não bebi, não atendi a campainha, não usei telefone celular. Me isolei de tudo e de todos, e jogado ao chão do meu apartamento, chorei seis dias e seis noites direto, num misto de dúvidas e culpa. Sim, de culpa, pois eu sabia exatamente de toda a minha vida, e de tudo que tinha feito até então. Tinha consciência da vida leviana que levei, da falta de respeito pelo meu corpo, à minha saúde.Todo o meu desejo louco por sexo fácil, despudorado, e o meu vigor e orgulho do ativão socador, que outrora era meu troféu, se resumia a um pranto doído e esmagador. Ali, naquele momento, eu era o meu acusador e o meu alento ao mesmo tempo. Queria encontrar respostas para tudo aquilo, queria saber como isso havia ocorrido comigo, quem havia ousado me contaminar, eu sempre fui  o fodão, o esperto. O cara que tinha frases prontas para tudo, o bom da boca que não perdia uma investida ou oportunidade de sexo (como se isso fosse uma grande vantagem, ou me valesse de alguma coisa naquele momento).
                          O resultado saiu dia 08 de Junho de 2011. Um dia antes, dia 07, numa terça feira resolvi usar pela primeira vez naquela semana, o celular, e contar para a minha família. Pois não sabia qual resultado daria, e eles precisariam saber, pois não suportaria segurar sozinho a barra de um sim.

                                                         CONTINUA...

O T E L E G R A M A
"Convite para retornar ao Hemocentro"

Era 1º de Junho de 2011, três dias haviam se passado da minha doação de sangue no hemocentro, e cá pra nós? nem me lembrava mais disso. Voltei a trabalhar, era uma quarta feira. Meio de semana, cabeça a mil, metas, contas pra pagar,a final de contas era início de mês, ou seja vida normal de todo ser humano. Eram seis e meia da noite quando cheguei na portaria do meu prédio exausto, louco pra tomar um banho e cair na cama quando fui abordado pelo porteiro, sr. Luis, que me entregou um telegrama e me pediu para assinar. Caramba, eu logo pensei na minha família, afinal meus parentes estão todos em outro Estado, e não é todo dia que recebemos telegrama. Bem, agradeci e peguei o tal documento entrei no elevador e subi até meu andar. Não aguentei a curiosidade e do corredor mesmo fui rasgando as laterais daquele papel fino. Alí estava: SOLICITAMOS O SEU COMPARECIMENTO, URGENTE, EM UM PRAZO MÁXIMO DE 24 HORAS AO HEMOCENTRO, PARA TRATAR DE ASSUNTO DE CARÁTER EXCEPCIONAL.
Bom, como disse anteriormente, sempre doei sangue (por causa do exército, lembra? lá é obrigatório doar sangue - bem eles dizem que não, mas se você não doa não ganha folga - durante os 12 meses que serve) e nunca recebi um telegrama. Pensei que minhas plaquetas estivessem baixas, pois tive este problemas de glóbulos uma vez. Guardei o telegrama e fui tomar banho. jantei, vi televisão, naveguei na net, como sempre faço, mas algo não me deixava em paz. Me sentia tenso, assustado com aquela carta. Queria saber o que queriam comigo e não conseguiria aguardar muito p--ara isso. No dia seguinte, me levantei, liguei para o trabalho e disse que me ausentaria por motivos de família. Apanhei o tal envelope dos correios, o RG e comprovante de endereço (como pediram) e fui o hemocentro. Quando cheguei, me olhavam estranho, numa espera que não tinha fim. Eu sentia que algo estava errado, mas não tinha muito o que fazer se não aguardar. Uma hora e meia depois, veio uma enfermeira e me chamou pelo nome. Me levou a uma sala pequena com uma imagem de jesus e um crucifixo enorme no meio da sala. Aquilo tudo tava me matando de tanta ansiedade. Nisso veio um cara gordo, jovem até, devia ter uns 30 anos no máximo. Se identificou como o chefe do laboratório de hematologia e disse que teria que colher novamente minha amostra, pois algo havia dado errado. perguntei o que houve e ele me disse que ainda não sabia, e que eu precisaria responder um questionário com algumas perguntas. Assim o fiz, eram todas com intuito de saber sobre minha vida social, pessoal e sexual. Preenchi tudo, e o entreguei. Disse: 
-Olha, não gosto de rodeios, sou direto e muito ocupado, faltei ao trabalho pra estar aqui e se tem algo de errado quero que seja direto comigo e não faça rodeios. Quero saber o que houve e porque não aceitaram meu sangue. O cara me olhou firme, como que desaprovando o meu tom arrogante - sim, eu era um homem arrogante e muito autoconfiante antes do meu diagnóstico- e me disse:
-sua amostra apontou a presença de alguns reagentes, e precisamos colher novamente novos tubos, o que há exatamente não posso precisar, mas temos três possibilidades: Hepatite, sífilis ou ....
Então eu interrompi: Ou o quê?
-HIV, ele disse!
-Aids? o sr ta querendo dizer que posso ter aids?
Na verdade ele deu três possibilidades, mas sabem como é o ser humano ne? escutam sempre as piores coisas primeiro. Ou pelo menos dá mais importância a elas, enfim naquele momento meu mundo caiu. O chão se perdeu e não conseguia raciocinar direito. Uma mistura de dúvida e vontade de chorar me invadiram, quis me levantar, mas tinha que colher as novas amostras. E assim o fiz. Ele me disse:
-Em uma semana, acabamos com sua ansiedade, tente ficar bem, e saiba que hoje em dia, seja o que for que der nos seus exames, a medicina está muito evoluída, e...
O interrompi, agradeci a atenção, e com a altivez (ainda de um arrogante) sai da sala com as guias de exames nas mãos. Passei pela recepção atônito, de modo que nem vi que havia esquecido de pegar minha identidade. quando ouço a secretaria me chamar, peguei o RG das mãos dela sem sequer saber a cor da sua pele, desci as escadas daquele lugar em prantos. Não tinha um amigo, uma namorada, um vizinho, ninguém pra dividir minha dor, saí pela rua do hemocentro sem rumo, banhado pelas minhas lágrimas, desesperado e pensando no QUE SERIA DA MINHA VIDA.

CONTINUA...



Meus caros leitores, começo hoje uma tarefa muito difícil para mim: falar do meu diagnóstico. Tudo começou no dia 30 de Maio de 2011, estava em casa, havia recebido folga do trabalho e estava um dia quente, como quaisquer outros aqui no Rio de Janeiro. Devia fazer uns 42 graus, sei la, mas estava quente o suficiente para me deixar impaciente. Bem, antes deixe me apresentar: Me chamo Lukas, tenho 29 anos, sou natural do Estado de Minas Gerais, mas vivo aqui no Rio ha cerca de 02 anos. Decidi fazer as malas e me mudar (sozinho) para uma cidade grande, em nome do sonho de viver em uma megalópole. Eu acreditava que aqui as coisas seriam muito mais fáceis. Que eu teria água de côco e coqueiros para me refrescar, corpos sarados, sob qualquer suspeita, zero de gordura e muito, muito verde.... Bom, o verde e a água de côco até que encontrei (na zona sul), e alguns muitos corpos sarados também, afinal estou no rio de janeiro não é mesmo? mas o que eu não sabia mesmo é que a vida numa megalópole é mega difícil, cruel e as vezes, injusta. Sofri muito para me adaptar aqui, sofria o preconceito profissional das pessoas que me olhavam torto e me acusavam de roubar delas as oportunidades de trabalho. Preconceito racial (acreditem se quiserem - sofri preconceito racial no rj). Mas enfim, vamos ao que interessa, como dizia estava eu sem ter o que fazer, e como todo sagitariano, não sei ficar parado, sem ter com o que me ocupar, tomei um banho e coloquei um shorts e camiseta regata, um tênis e fui caminhar na orla de um bairro da zona sul de minha cidade. À caminho da praia passei em frente ao hemocentro. Lá, havia um cartaz em letreiro azul convidando as pessoas a doarem sangue, pois o estoque estava baixo. Eu, doador há anos, desde 2003, quando servi o exército, resolvi fazer a "boa ação do dia". pensei: não tenho mesmo o que fazer, deixa eu doar meu sangue pra quem precisa. Eu ria sozinho de mim mesmo, pela banalidade momentânea do meu desvio de rota. saí para caminhar e já ia eu inventar moda (como dizem em Minas - quando não se tem o que fazer ). Mas eu nem imaginava que, começava ali, naquele 30 de Maio, o maior desafio da minha vida. Tudo mudaria, embora eu nem desconfiasse disso. Bem, eu doei meu sangue, fui muito bem tratado (como sempre - as equipes dos hemocentros são muito legais) e voltei pra casa naquele dia, não sei porque mas perdi a vontade de caminhar.  

CONTINUA...