quarta-feira, 4 de abril de 2012


O T E L E G R A M A
"Convite para retornar ao Hemocentro"

Era 1º de Junho de 2011, três dias haviam se passado da minha doação de sangue no hemocentro, e cá pra nós? nem me lembrava mais disso. Voltei a trabalhar, era uma quarta feira. Meio de semana, cabeça a mil, metas, contas pra pagar,a final de contas era início de mês, ou seja vida normal de todo ser humano. Eram seis e meia da noite quando cheguei na portaria do meu prédio exausto, louco pra tomar um banho e cair na cama quando fui abordado pelo porteiro, sr. Luis, que me entregou um telegrama e me pediu para assinar. Caramba, eu logo pensei na minha família, afinal meus parentes estão todos em outro Estado, e não é todo dia que recebemos telegrama. Bem, agradeci e peguei o tal documento entrei no elevador e subi até meu andar. Não aguentei a curiosidade e do corredor mesmo fui rasgando as laterais daquele papel fino. Alí estava: SOLICITAMOS O SEU COMPARECIMENTO, URGENTE, EM UM PRAZO MÁXIMO DE 24 HORAS AO HEMOCENTRO, PARA TRATAR DE ASSUNTO DE CARÁTER EXCEPCIONAL.
Bom, como disse anteriormente, sempre doei sangue (por causa do exército, lembra? lá é obrigatório doar sangue - bem eles dizem que não, mas se você não doa não ganha folga - durante os 12 meses que serve) e nunca recebi um telegrama. Pensei que minhas plaquetas estivessem baixas, pois tive este problemas de glóbulos uma vez. Guardei o telegrama e fui tomar banho. jantei, vi televisão, naveguei na net, como sempre faço, mas algo não me deixava em paz. Me sentia tenso, assustado com aquela carta. Queria saber o que queriam comigo e não conseguiria aguardar muito p--ara isso. No dia seguinte, me levantei, liguei para o trabalho e disse que me ausentaria por motivos de família. Apanhei o tal envelope dos correios, o RG e comprovante de endereço (como pediram) e fui o hemocentro. Quando cheguei, me olhavam estranho, numa espera que não tinha fim. Eu sentia que algo estava errado, mas não tinha muito o que fazer se não aguardar. Uma hora e meia depois, veio uma enfermeira e me chamou pelo nome. Me levou a uma sala pequena com uma imagem de jesus e um crucifixo enorme no meio da sala. Aquilo tudo tava me matando de tanta ansiedade. Nisso veio um cara gordo, jovem até, devia ter uns 30 anos no máximo. Se identificou como o chefe do laboratório de hematologia e disse que teria que colher novamente minha amostra, pois algo havia dado errado. perguntei o que houve e ele me disse que ainda não sabia, e que eu precisaria responder um questionário com algumas perguntas. Assim o fiz, eram todas com intuito de saber sobre minha vida social, pessoal e sexual. Preenchi tudo, e o entreguei. Disse: 
-Olha, não gosto de rodeios, sou direto e muito ocupado, faltei ao trabalho pra estar aqui e se tem algo de errado quero que seja direto comigo e não faça rodeios. Quero saber o que houve e porque não aceitaram meu sangue. O cara me olhou firme, como que desaprovando o meu tom arrogante - sim, eu era um homem arrogante e muito autoconfiante antes do meu diagnóstico- e me disse:
-sua amostra apontou a presença de alguns reagentes, e precisamos colher novamente novos tubos, o que há exatamente não posso precisar, mas temos três possibilidades: Hepatite, sífilis ou ....
Então eu interrompi: Ou o quê?
-HIV, ele disse!
-Aids? o sr ta querendo dizer que posso ter aids?
Na verdade ele deu três possibilidades, mas sabem como é o ser humano ne? escutam sempre as piores coisas primeiro. Ou pelo menos dá mais importância a elas, enfim naquele momento meu mundo caiu. O chão se perdeu e não conseguia raciocinar direito. Uma mistura de dúvida e vontade de chorar me invadiram, quis me levantar, mas tinha que colher as novas amostras. E assim o fiz. Ele me disse:
-Em uma semana, acabamos com sua ansiedade, tente ficar bem, e saiba que hoje em dia, seja o que for que der nos seus exames, a medicina está muito evoluída, e...
O interrompi, agradeci a atenção, e com a altivez (ainda de um arrogante) sai da sala com as guias de exames nas mãos. Passei pela recepção atônito, de modo que nem vi que havia esquecido de pegar minha identidade. quando ouço a secretaria me chamar, peguei o RG das mãos dela sem sequer saber a cor da sua pele, desci as escadas daquele lugar em prantos. Não tinha um amigo, uma namorada, um vizinho, ninguém pra dividir minha dor, saí pela rua do hemocentro sem rumo, banhado pelas minhas lágrimas, desesperado e pensando no QUE SERIA DA MINHA VIDA.

CONTINUA...



6 comentários:

  1. Oi,
    hoje entrei em desespero... fiz doação de sangue no mes de Setembro desse ano, hoje no periodo da tarde recebo um telegrama do Hemocentro da minha cidade. No telegrama (carta de convocação) agradece pela minha doação e solicita que eu compareça para concluir os exames e que meu comparecimento é muito importante.
    Nossa, estou muito aflito...

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  2. Moço
    Vá urgente. Eles querem refazer pq algo deu alterado

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  3. Moço
    Vá urgente. Eles querem refazer pq algo deu alterado

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  4. Ninguem manda refazer exames do nada

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